Lançada seis anos depois de O Peregrino como a segunda parte da história de Cristão em sua jornada desde a Cidade da Destruição até a Cidade Celestial, esta continuação é, sob vários aspectos, digna de ser classificada como obra distinta. Não que lhe faltem pontos de afinidade com o texto que a originou, pelo contrário, a relação entre os dois é explícita e direta, mas porque John Bunyan consegue dar à narrativa autonomia suficiente para caracterizá-la como tal.
Não se trata apenas de uma diferença de gênero. É bem verdade que a saga de Cristiana oferece, em boa medida, uma abordagem feminina à trajetória do cristão que deseja de fato substituir os cuidados deste mundo por uma vida de devoção.
No entanto, a história também promove uma ligeira mudança no foco da experiência espiritual: a viagem empreendida por ela não é mais propriamente de descobertas, como a do marido, mas uma tentativa de recuperar o tempo perdido quando desprezou a oportunidade de acompanhá-lo.
Outra diferença que proporciona relativa independência à história de A Peregrina é a caminhada da personagem em comunidade, uma opção narrativa que abre espaço para outros conflitos que não os pessoais. Desta forma, Bunyan amplia o alcance de sua alegoria.
Ele inclui o Corpo de Cristo como unidade, abrangendo todas suas peculiaridades, bem como o potencial que possui para a mutualidade e o serviço.
Mais de três séculos depois de seu lançamento, A peregrina ainda é uma fábula envolvente e provocadora. Se os ambientes e personagens denunciam o período em que a história foi escrita, as alegorias contidas nas situações vividas por Cristiana permanecem atuais e retratam com fidelidade os conflitos de todos os que se propõem a vencer os obstáculos em nome do objetivo final da jornada: alcançar a Cidade Celestial.
Autor - John Bunyan
Ano - 1684
Páginas - 213
Editora - Mundo Cristão
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