João Ferreira de Almeida foi missionário calvinista,
escritor e tradutor. Nasceu em Torre de Tavares, próximo de Mangualde, em 1628,
sendo filho de pais católicos.
Orfão de pai e mãe, foi para Lisboa para a casa de um tio
clérigo, de onde terá emigrado para a Holanda com apenas 14 anos. Daí partiu
para Malaca, recentemente conquistada pelos holandeses em 1641, e onde terá
permanecido alguns anos, tendo casado com a filha de um pastor calvinista.
Em Malaca Ferreira de Almeida renunciou à religião Católica,
para abraçar o Calvinismo, depois de ter lido um panfleto espanhol anticatólico
que veio a traduzir em portugês, intitulado: "Differença da
Christandade...". Este livro mostrava a divergência entre o Catolicismo e
o Protestantismo.
Em 1644, com apenas 16 anos, Ferreira de Almeida traduziu do
espanhol para português os Actos dos Apóstolos, que eram copiados à mão e
distribuídos pelas comunidades portuguesas. Em 1645 a tradução do Novo
Testamento está concluída, mas foi somente publicada em 1681, em Amesterdão.
Ferreira de Almeida visitava doentes em Malaca e mais tarde,
em Batávia e percorria diariamente hospitais e casas de doentes, dando apoio
espiritual, com orações e exortações. Parece ter sido em Batávia, o centro das
suas actividades religiosas. Aí ingressou na Igreja Protestante Portuguesa,
(que existiu entre 1633 e 1808) e em 1656, foi ordenado ministro pregador.
De 1656 a 1663, Ferreira de Almeida pregou em várias línguas
na ilha de Ceilão (Colombo, Porto de Gale, etc.) e nas costas Indostânicas
(Coromandel, Malabar), difundindo em especial a língua portuguesa.
Em 1663, Ferreira de Almeida voltou a Batávia, onde veio a
falecer em 1691. Ferreira de Almeida escreveu várias obras, nomeadamente:
Differença da Christandade (Batávia, 1668), mas, o que mais o notabilizou foi a
tradução da Bíblia para a língua portuguesa.
Começou a traduzir a Bíblia pelo Novo Testamento, que foi
publicada em vida do autor, em Amesterdão, em 1681, impressa pela viúva de J.
V. Someren. Edição com muitas incorrecções, devido à incompetência dos
revisores, de que o autor se queixou numa Advertência, com um apêndice de mais
de mil erros, publicada em Batávia, em 1683. Perante estas informações, os
Directores da Companhia da Índia Oriental determinaram que fossem destruídos
todos os exemplares na Holanda e em Batávia, tendo no entanto, sido poupadas,
algumas cópias distribuídas às congregações de Batávia, Malaca e Ceilão,
apresentando correcções a tinta.
Para além do exemplar existente na Biblioteca Nacional,
temos conhecimento de outra espécie, na British Library.
Saiu do prelo a segunda edição, do Novo Testamento, impresso
em Batávia por João de Vries, em 1693, dois anos após a morte do tradutor. A
Companhia das Índias Orientais em colaboração com a Igreja Protestante,
estabelecida naquela ilha, diligenciou para que os missionários, Theodorus Zas
e Jacobus op den Akker, procedessem à revisão e conferissem a tradução de João
Ferreira de Almeida com a Vulgata.
Quanto ao Antigo Testamento, Ferreira de Almeida, só
concluiu a tradução até Ezequiel, tendo o restante sido continuado por Jacobus
op den Akker, em 1694, que só veio a ser impresso em Batávia, em dois volumes,
em 1748 e 1753.
Seguiram-se muitas outras edições parciais ou totais,
impressas em Batávia, Trangambar, Londres, Nova Iorque e Lisboa.
As traduções foram feitas com o auxílio da versão holandesa
do Sínodo protestante de Drodeck (1618) e da castelhana de Cipriano de Valera
(1602).
João Ferreira de Almeida teve o grande mérito de passar toda
a vida debruçado sobre a Bíblia e só a morte o afastou dessa notável missão.
Ferreira de Almeida zelou para manter as comunidades
evangélicas portuguesas nos lugares do Império Português das Índias, que os
holandeses iam ocupando, e defendeu, que fossem divulgados livros em português
a essas comunidades.
Fonte - Biblioteca Nacional Tesouros